A Trindade no Livro de Marcos

O Evangelho segundo Marcos é o mais breve e direto dos quatro evangelhos, com foco na ação e no ministério de Jesus como o Messias sofredor e servo. Escrito provavelmente para um público gentio, especialmente os cristãos de Roma, Marcos omite muitos detalhes genealógicos e proféticos que aparecem em Mateus e Lucas, concentrando-se em mostrar Jesus como uma figura poderosa, mas também humilde, que veio servir e dar sua vida em resgate por muitos.

A narrativa começa abruptamente com o ministério de João Batista e o batismo de Jesus, sem mencionar seu nascimento. A partir daí, Marcos destaca os milagres e as ações de Jesus, apresentando-o como alguém com autoridade divina sobre doenças, demônios, natureza e até a morte. Parábolas e ensinos são incluídos, mas o evangelho é marcado por um ritmo acelerado, com expressões como “logo”, “imediatamente” e “então” aparecendo frequentemente, transmitindo um senso de urgência na missão de Jesus.


O Evangelho segundo Marcos também traz revelações claríssimas sobre a Trindade. Imagem: Yandex

Um tema central do evangelho é o segredo messiânico: Jesus frequentemente ordena aos discípulos e às pessoas que não revelem sua identidade, pois ele deseja que sua verdadeira missão seja compreendida apenas após sua morte e ressurreição. Essa missão culmina na última semana de sua vida, quando enfrenta traição, julgamento, crucificação e morte. A ressurreição é relatada brevemente, com o túmulo vazio e um anjo anunciando que Jesus havia ressuscitado, mas termina com as mulheres fugindo do sepulcro, tomadas de medo e assombro.

Marcos enfatiza a necessidade de os discípulos entenderem que seguir a Jesus envolve renúncia e serviço, e que o caminho do Messias é marcado pelo sofrimento antes da glória. O evangelho é uma chamada à fé e à coragem, convidando os leitores a confiar no poder transformador de Cristo, mesmo diante das dificuldades.

Estudo Resumido sobre Provas da Trindade no Livro de Marcos

O Evangelho de Marcos, embora seja o mais breve dos quatro evangelhos, contém evidências claras que apontam para a doutrina da Trindade. A interação entre as três pessoas da divindade — Pai, Filho e Espírito Santo — é apresentada sutilmente, mas significativa, no texto grego original. Este estudo explora essas passagens, destacando como elas revelam a natureza triúna de Deus.


1. O Batismo de Jesus (Marcos 1.9-11)

No relato do batismo de Jesus, encontramos uma das primeiras manifestações das três pessoas da divindade: “E aconteceu que, quando saiu da água, viu os céus se abrindo, e o Espírito (τὸ πνεῦμα) como uma pomba descendo sobre ele. E veio uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado (ὁ υἱός μου ὁ ἀγαπητός); em ti me comprazo.”

Aqui, Jesus (o Filho) é batizado, o Espírito Santo desce visivelmente, e o Pai fala do céu. Essa cena demonstra claramente a distinção entre as três pessoas, enquanto elas atuam em unidade perfeita. O uso da primeira pessoa na declaração do Pai (ὁ υἱός μου ) reforça a relação íntima entre Pai e Filho.


2. A Expulsão de Demônios e o Poder do Espírito (Marcos 3.28-30)

Em Marcos 3.28-30, Jesus fala sobre o pecado contra o Espírito Santo: “Em verdade vos digo que todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e as blasfêmias que disserem; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo (τὸ πνεῦμα τὸ ἅγιον), nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo.”

Essa passagem sublinha a divindade e a singularidade do Espírito Santo, distinguindo-o tanto do Filho quanto do Pai. A gravidade do pecado contra o Espírito Santo reflete sua autoridade divina e seu papel essencial na obra redentiva.


3. A Confissão de Pedro e a Identidade de Cristo (Marcos 8.29)

Após questionar seus discípulos sobre sua identidade, Jesus recebe a confissão de Pedro:
“Tu és o Cristo (σὺ εἶ ὁ χριστός).”

Embora Marcos não inclua a referência ao “Filho do Deus vivo” presente em Mateus, o título “Cristo” já implica a missão messiânica de Jesus como enviado do Pai. Essa confissão prepara o terreno para a revelação posterior da morte e ressurreição de Jesus, eventos que envolvem a participação trinitária.


4. A Última Ceia e a Nova Aliança (Marcos 14.22-24)

Durante a última ceia, Jesus institui a nova aliança: “E, tomando o cálice, depois de haver dado graças, deu-lho, dizendo: Isto é o meu sangue, o sangue do novo pacto (τὸ αἷμα τῆς διαθήκης), que é derramado por muitos.”

Aqui, Jesus age como mediador entre Deus e a humanidade, papel que reflete sua função como Filho encarnado. O contexto sugere a participação do Pai na instituição da aliança e a presença do Espírito Santo na aplicação de seus benefícios.


5. A Ressurreição e a Missão Final (Marcos 16.15-16)

No final do evangelho, Jesus dá instruções aos discípulos após sua ressurreição: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.”

Embora o texto trinitário da Grande Comissão (como em Mateus 28.19) não esteja presente aqui, a ênfase na pregação do evangelho e no batismo implica a obra conjunta do Pai, do Filho e do Espírito Santo na salvação. A comissão missionária reflete a continuidade da missão trinitária iniciada no ministério terreno de Jesus.

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;" Mateus 28:19


Considerações e Conclusão

Embora o Evangelho de Marcos seja conciso, ele contém elementos fundamentais que apontam para a doutrina da Trindade. As interações entre Pai, Filho e Espírito Santo são apresentadas de forma clara e harmoniosa, revelando a unidade essencial e a distinção pessoal dentro da divindade. Essas passagens fornecem uma base sólida para entender a natureza triúna de Deus e sua obra redentiva no Novo Testamento.


Fontes Utilizadas:

  1. Nestle-Aland, Novum Testamentum Graece (NA28).
  2. BDAG (A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature).
  3. Edwards, James R. The Gospel According to Mark . The Pillar New Testament Commentary.
  4. France, R.T. The Gospel of Mark . The New International Greek Testament Commentary.
  5. Beale, G.K., & Carson, D.A. Commentary on the New Testament Use of the Old Testament .
Ricardo F.S

Escritor no Blogger desde 2009. Adorador do Cristo Vivo. Artista por Natureza. Músico Autodidata. Teólogo Apologeta Zeloso capacitado pela EBD, CETADEB e EETAD. Homem Falho, Apreciador de Conhecimentos Úteis e de Vida Simples e Modesta. 😁

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